14.7.15

Baixo Calão

Mais ou menos vasta,
há uma lista de palavras inconvenientes que quase todos sabemos.

Por artes decerto tortuosas,
os brasileiros convencionaram chamar bicha a um lésbico
(seja-me permitida a liberdade semântica de estender Lesbos ao homem);
e para isso passaram a designar uma fileira serpenteada (bicha), por fila,
esquecendo a ortogonalidade que o conceito de fila contém.
Não pelas mesmas artes, os portuenses tratam por magnório a nêspera
(de magnólio ou nespereira do Japão),
reservando nêspera para designar a genitália feminina.

Nem por isso no Sul se deixou de chamar nêspera à nêspera,
deixando ao Porto o seu magnório regional.
Se nos dispensámos de adoptar o magnório lá de cima
e continuamos a ferir as nortenhas orelhas com a nossa nêspera,
porquê capitular perante os brasucas, talvez menos merecedores de deferência,
empobrecendo o nosso tão rico idioma… matando as bichas?
Continuemos pois a ter filas de candeeiros numa alameda,
ou filas de automóveis no parque de estacionamento,
mas deixemos que eles se automovam aos ésses se a estrada for aos ésses
e não se passe à frente de quem em retorcida fileira esteja à espera de vez
para pagar na caixa do supermercado.

Os brasileiros que tenham as suas bichas… nós conservamos as nossas.

José Guerreiro

2015.07.14