3.11.12

F 477




Dedicatória

Dedico este escrito ilustrado ao Joaquim Pereira Cardoso Mendes, que tão bem integrou a nossa equipa de oficiais. Ausente em parte incerta desde Fevereiro, quero acreditar que gostaria de ter visto o que aqui deixo.

Fotografias

O rebusco no meu vasto acervo, à cata de imagens que ilustrem as narrações para o blogue, tem sido bom pretexto para redescobrir lugares por onde andei. Mesmo quando as não posso constituir documento por delas não ter tomado registo do onde e do quando, conservo fotografias que por aqui e por ali fui tirando e jazem em caixas velhas, em magazines de diapositivos ou penduradas em folhas de álbuns e me acordam para horas idas. É que, tal como as cábulas do estudante pouco aplicado o ajudam a colar a matéria só por tê-las escrito, as imagens que num momento me foram importantes e por isso recolhi, tempo passado reactivam-me na memória mecanismos que fazem do revê-las um prazer.

Verão quente

Deixei Moçambique a duas semanas da Independência e amanheci em Lisboa no Dia de Portugal.

Retomei o serviço como adjunto do 2º Comandante da Base Naval de Lisboa. O calor com que se vivia a época dilatou o Verão, empurrou-o,  tornou-lhe mais veloz o tempo e o relógio não o acompanhou. Havia pressa de viver. Tendo seguido de longe a trajectória da revolução, estava por isso mal sintonizado para a freqüência de emissão dos novos hábitos. Concordando aqui, discordando acolá, ajustei-me quanto quis e pude ao som da banda, sem adopção de cartilha ou rejeição de quaisquer amizades; e feria-me observar a cisão que a mudança de paisagem provocava na Armada, onde as câmaras, a contra-senso, perdiam a moldura de inclusão e liberdade.  

Acabado o Verão do calendário, mas ainda Verão Quente todavia, as singularidades não paravam.

Para continuar de bem comigo, repudiei, aliás  sem resultado, junto do Comandante, a complacência e cumplicidade com que na tarde de 15 de Outubro se permitia o embarque dos SUV (Soldados Unidos Vencerão) 


em camionetas da Armada, estacionadas no mais emblemático local do Alfeite - o largo fronteiro ao palácio, que depois de ter sido Real foi da Intendência, aquele mesmo onde se iça a nossa bandeira.


Toda a gente sabia que procuravam a subversão da hierarquia, tornando meras peças decorativas de peso insuportável, os galões dourados que conquistáramos e por direito exibíamos nos ombros. Toda a gente sabia que iam para Évora, onde seriam mostrados os slôganes pintados nas peças de pano cru enroladas em paus, que em grande quantidade entravam nos carros. O que não se sabia, mas adivinhava-se, eram a sensatez, côr e tom das ‘verdades’ sugeridas em tais faixas. Mesmo tratando-se de militares da Armada, usando (com aval de quem?) viaturas da Armada, não consegui obter senão evasivas teóricas, cuidando antes de mais que não fosse mitigada a liberdade(?) dos ‘angélicos’ cidadãos em uniforme.

Tempos difíceis.

Falava-se à boca pequena àcerca de uma medalha da Legião Portuguesa que deixara inopinadamente de constar na Lista da Armada. Consultei as duas últimas listas. O boato não era boato. Com frontalidade interpelei o camarada roubado e perguntei-lhe se queria falar sobre o assunto. Fê-lo, com delicadeza e algum constrangimento, mas também aí… nada mais do que evasivas.

Tempos difíceis.

Para termos uma visão do que se passava na unidade, o comandante Elias da Costa, Chefe do Estado-Maior do Comando Naval do Continente, sediado no Palácio da Intendência, o Semedo, de serviço ao CNC e eu, de divisão à BNL, fomos os três ao Salão Nobre, quase cheio, onde, já ao fim da tarde ia começar uma reünião – julgo que de teor sindicalista e com operários do Arsenal do Alfeite. Ainda me espanto, ao recordar os olhares enxotadores misturados de vacüidade insolente com que nos miraram durante a breve revista. Assim como se os intrusos fôssemos nós. E fiquei sem saber a que título, sob que protecção ou compadrio, o Salão Nobre de uma unidade naval de tôpo se tornara o palco legitimado de tal reünião.

Foi curta a minha passagem pela Base. Na lista de nomeações compulsivas para o Ultramar ocupava a quinta posição. Só que as quatro primeiras eram cativas de camaradas submarinistas. E lá fui nomeado para Timor, já que o titular estava evacuado em Macau com ferida ulcerada numa perna e outro oficial também em Macau que se oferecera para o render desistira face ao evoluir dos acontecimentos no território. Era previsível que viesse a encontrar muitas dificuldades e tivesse que enfrentar cenários de perigo, no desempenho dos cargos de Capitão do Porto e Comandante da Defesa Marítima. Não obstante, consegui tirar algum sarro da situação ao pedir ingènuamente conselho ao camarada que me recebeu na 1ª Repartição, sobre escola para os miúdos e roupas e palamenta para a casa onde me alojaria com a família . Incrédulo – não era para menos perante a crescente ameaça da Indonésia -  perguntou-me:

- Mas você pensa mesmo levar a família para Dili?
- Claro, não é um direito que me assiste?

Não consegui manter-me sério por mais que uns instantes; e vi-o relaxar-se no assento quando percebeu que gozava. Estava duvidoso da minha sanidade.

Recebi instruções no Estado Maior General das Forças Armadas. Também na Marinha, por parte do Director do Serviço de Administração Naval – deveria envidar todos os esforços para trazer de volta a Lisboa o cofre  que tinha ficado em Dili. E conversei ainda com o Governador, coronel Lemos Pires, que me deu uma visão do que iria encontrar.

Viver Timor em Macau

Saí de Lisboa com São Martinho:  Zurique, Roma, Calcutá, Banguecoque, Hong-Kong, Macau. Desembarquei a tiritar na data do Grande Prémio de Automobilismo.  Faziam dois graus de temperatura e eu vestia uma balalaica adequada ao tempo atmosférico quente de horas antes na Tailândia. 


Ninguém se deu à cortesia de me receber. Fiquei surpreendidíssimo com o grande desconhecimento linguístico evidenciado por toda a gente que interpelei para me orientar. Nem em inglês me safei. Mesmo com a Polícia Marítima nada consegui. Icei numa imaginária adriça o sinal de actuação independente e depois de em vão ter tentado entender-me com um táxi chinês de língua, procurei um riquexó. Inteligente, o condutor abriu com enfâse um mapa da cidade e confrontou-me com ele. Lá apontei uma ‘dockyard’ e o desenho de uma âncora e acertei em cheio na Capitania. A coïncidência de ser Domingo não facilitou nada. Fui em busca do Comandante à cerimónia de distribuição de prémios de automobilismo. Disse-me o que sabia, que pouco era. Voltei às instalações navais. A casa que me fôra destinada estava preparada para o Verão, era uma casa de Verão. Com janelas fechadas com vidros rotativos justapostos e com apenas dois lençóis e uma almofada carecidos de água e sabão, teria sido um frigorífico perigoso se camaradas mais novos ali servindo me não tivessem valido, com mantas, toalhas e outros aprestos.

E pensar que por duas vezes, havia apenas um ano, o recebera como um ‘princês’ na residência do Capitão do Porto de Quelimane…

O porquê de ter ido para Macau e não para a Ilha de Ataúro prendeu-se com a primeira das tarefas que me fôra cometida: levar para Timor o rebocador ‘Lifau’, já em fase final de reparação e aprontamento. Via Sidney, cheguei a ter aprazada uma ida exploratória a Ataúro, que não fiz por ter coïncidido com a invasão.

Tomei posse em Macau do cargo de Comandante da Defesa Marítima de Timor. Fui assim, ‘in nomine’, o último oficial no cargo, com o cunho singular de nunca lá ter posto pé.

Já em Dezembro de 1961, a caminho da Índia [a], invadiram-na antes que chegasse. Agora em Dezembro de 1975, repetiu-se a cena, com Timor. Camaradas amigos, recomendavam-me depois com graça que não me aproximasse dos Açores.

Mas conheci Macau, a que desde sempre ouvira meu pai tecer loas. A bordo dos NRP’s “Pátria” e “Carvalho Araújo” ali esteve, jovem marujo, entre 1922 e 1927. Tanto tempo depois , em apenas trinta e seis dias, não tive tempo de aquilatar da bondade das suas lembranças. Mas gostei da experiência. De regresso a casa, deixei Macau em 22 de Dezembro. Sempre tão lesto para fotografar, não entendo porque razão só naquele mesmo dia e muito à pressa, fiz uns quantos disparos, quase obrigatórios. Aqui deixo a imagem de uma rua (dos ‘tintins’) e em contraponto uma outra de 1923, em que meu pai é o ‘chinês’ da esquerda.






Rua António Maria Cardoso

Em Quelimane, presidi à Comissão de Extinção da ex-Pide/DGS. Poucos dias depois do regresso de Macau, voltei a lides semelhantes, só que desta vez na mais odiada de todas as pides, a sede, na António Maria Cardoso, para chefiar uma das três secções da Comissão de Extinção: a dos informadores.

Eram cerca de quatro centenas os processos a decorrer. Alguns havia em que as páginas não estavam autenticadas, noutros faltavam páginas e em outros ainda, a primeira página, a que originava o processo, não estava assinada. Nos dois meses e dezanove dias em que ali estive, tudo quanto fez a esforçada equipa de dois advogados em cumprimento de serviço militar e meia dúzia de escrivães do êxodo de Angola e de Moçambique, foi honestar toda aquela papelada, fazendo corresponder a uma verdade formal a herança encontrada. Folha a folha, auto a auto, tudo foi inventariado, numerado, autenticado e assinado. Para a fase seguinte já ali não estive. Mandaram-me comandar em outras águas, mais desejadas.    

NRP “General Pereira d’Eça”





Foi-me dado o comando da corveta “General Pereira d’Eça” em Abril de 1976. Atingia assim o almejado patamar, motivo primordial de ser oficial de Marinha: comandar um navio. Em 1º tenente, nos anos sessenta, tinha já sido comandante da “Montante”, mas  o cargo foi apenas circunstancial e não mo credito em pleno por não termos navegado.

Última das três corvetas construídas na Alemanha em 1970, a ‘Pereira d’Eça’ deslocava 1400 toneladas, media 85 metros e tinha o número de amura F 477. Já nos conhecíamos de Moçambique. Tinha tido aliás ocasião de influenciar a sua ida a António Enes em Agosto de 1974 para conter os desmandos em crescendo na cidade e arredores. Guarnecida por uma centena de homens, ia por metade quando assumi o comando.


Fabricos

Alada no plano inclinado do Arsenal do Alfeite, sujeita a grandes reparações, ali estaria por alguns meses ainda.

Seis anos longe, impediram que tivesse acompanhado a renovação dos quadros. Oficiais, sargentos e praças, eram quase todos caras desconhecidas. Pormenor de pouca monta, já que a família naval dava os primeiros passos rumo à coesão perdida. Pequenos passos, é certo, mas esperançosos.

Não podendo o pessoal eximir-se à influência de uma sociedade em mutação, se as boas mudanças eram benvindas, outras havia que, principalmente entre a malta mais nova, ocasionavam ‘falhas de fogo’. Mas como para o enquadramento havia gente de boa cêpa, resolveu-se pedagògicamente e com facilidade o que foi ocorrendo. Toda a gente parecia interessada em cumprir bem.

Com o navio no plano, não havia sanitários nem rancho a bordo. Para os primeiros, usávamos os do Arsenal; e o almoço era nas messes da Base. A caminhada obrigatória para chegar às viandas tornou-se-me um suplício. Cruzava-me com muitos marujos que ostensivamente ignoravam os símbolos que me acompanhavam: o boné, a patente e até alguns cabelos brancos que começavam a espreitar nas fontes. Restos dos ardores ‘SUViéticos’ de tempos atrás… Não conseguia fingir que os não via. Interpelava-os e obrigava-os ao cumprimento militar, correspondendo sereno e cortês. Era um chato. Até um 1º sargento enfermeiro tive que compelir a saüdar-me; e esse teve contrapêso, pois além de ter de cortar a trunfa desmedida, obriguei-o a ir ao oficial de dia à Base mostrar que o tinha feito. Havia dias de menor paciência em que para me escusar a tais obrigações, ia almoçar à paisana.

A reparação avançou, a guarnição compôs-se, o navio desceu o plano e foi dado como pronto. Seguiram-se provas de mar


Treino

e depois o treinamento de todo o pessoal - PTB (Plano de Treino Básico) - que teve como pontos de apoio Tróia e Funchal, onde, em momentos de convívio se registaram as duas imagens abaixo.







Açores

Largámos para comissão no Arquipélago dos Açores no início da Primavera de 1977.

Na Madeira a FLAMA (Frente de Libertação do Arquipélago da Madeira);  e a FLA (Frente de Libertação dos Açores) nos Açores, aproveitavam a generosidade de uma democracia nascente para com alguma demagogia e muito populismo, agitar as massas contra os ‘cuntenentais’ e obterem da rèpública a atenção que de facto lhes ia faltando. Os mais visíveis embaixadores de  Lisboa éramos nós, os marinheiros, que com regularidade patrulhávamos aquelas águas e nos mostrávamos nos portos. O relacionamento que mantínhamos com as populações e com as autoridades variava imenso de ilha para ilha, sendo que S. Miguel era a menos amigável. Em Ponta Delgada, com uma sociedade muito fechada e pretensiosa, as gentes eram inamistosas, chegando por vezes à agressividade.

Fui a cumprimentos ao Comando Naval assim que atracámos. Depois, os muitos afazeres relacionados com a chegada e ajeitamento da estadia retiveram-me a bordo por três dias. Quando finalmente consegui ir a terra fazer uma caminhada e tomar ar, foi a agradável e convidativa calçada marginal sobranceira ao porto que escolhi para passear.  Pouco havia andado ainda, quando vi dois rapazes sentados no murete que limita a calçada. Justamente no momento de passar por eles, para aí a uns dois metros, ouvi uma voz:

- Cheira a merda…

Estaquei. Hesitei um momento. Como reagir? O pensamento é muito veloz… Virei-me ligeiramente para trás, encarei-os e disse:

- Cheira… e é daí.

Não retorquiram. Faltava-lhes convicção. Talvez não esperassem resposta. Ainda bem. Somadas, as idades dos dois, pouco excederiam os meus quarenta anos. Podia ter sido uma chatice… Fiquei sem saber se se dirigiam ao continental ou ao comandante da corveta. Em qualquer dos casos que raio de jeito ou sinal identificador levava comigo?

Naquela cidade não éramos benquistos, quer como nativos da Pátria-Mãe, quer como militares da Armada. As coisas tinham azedado um ou dois anos atrás, durante uma estadia da fragata ‘Comandante João Belo’. Não sei o que se passou senão de ouvir dizer. E o que diziam os micaelenses era que tinham visto aquele navio  içar a bandeira do partido comunista. Impensável. Plausível é terem visto a bandeira “B” do Código Internacional  Sinais, 


obrigatória durante fainas perigosas, como reabastecimento de combustível ou manuseamento de munições. Seja o que for que tenha sido, fez mossa no imaginário daquelas gentes.

Já que falo de símbolos, o endereço radiotelegráfico da ‘Pereira d’Eça’ era ‘CTFC’,


usava este escudete


e mais tarde teve esta medalha.




Em outras ilhas, porém, honra lhes seja, os habitantes recebiam-nos muito bem, eram cordiais e gratos por pequenas facilidades que a nossa presença lhes proporcionava. Sempre que foi possível, fez-se transporte ocasional entre ilhas, de pessoas e de bens de consumo em falta no destino.



Também levámos connosco grupos culturais, como foi o caso do famoso Rancho Folclórico da Candelária, do concelho da Madalena, no Pico. As bandas e os ranchos, são (eram) polos de recolha cultural com grande difusão no arquipélago.

Era na Ilha de S. Jorge, no pequeno burgo das Velas, onde os residentes, simpáticos e generosos, nos recebiam com muita civilidade que procurávamos passar as nossas folgas. Retribuíamos a sua simpatia tão bem quanto sabíamos. No Dia de São Jorge, estivemos presentes:





Tivemos a bordo a visita da banda;



e daquela boa gente.


As Velas são um recanto muito bonito.



Dois dias depois voltámos a embandeirar em arco, na Horta, em intenção do mais recente feriado português, de apenas três anos: o 25 de Abril; e aproveitámos para umas quantas fotografias daquelas que ficam para memória naval futura.




Estávamos em Santa Maria num dia em que o Concorde ali pousou. Não perdi a ocasião de o ver e fixei-o no momento em que se erguia airoso.


Mas fotografei muitos outros motivos:


Uns… bem saborosos



Outros, que cheios de soberbia, se impunham ao fotógrafo,





E outros ainda… tão esperados, mas chegados por fim.


Muito arreigado no povo, o culto do Senhor Santo Cristo dos Milagres, festejado no quinto Domingo depois da Páscoa, é um deslumbramento de fé, de luz e de cor. Calhou no meio de Maio. Em Ponta Delgada na altura, não quis deixar de presenciar e registar imagens:


Muito trabalho deu, fazer perceber aos micaelenses da capital, que a posição de bandeiras como as do varandim da imagem não era escolhida à matroca, mas que obedecia a prioridades protocolares; e que a bandeira da Rèpública tem precedência sobre a da Região Autónoma. Quando dávamos por nós tinham trocado as posições. Lá mandava uns quantos homens repôr as coisas no são. No dia seguinte a cena repetia-se. Durou algum tempo.






Entretanto, embarcaram fuzileiros.


Só passados trinta e cinco anos, ao digitalizar estes diapositivos, me dou conta de que fotografei a ‘Flôr de Peniche’, ainda toda lampeira, em faina de pesca. Viria a afundar-se pouco mais de um mês depois.


Conservo ainda a bóia de salvação que o mestre ofereceu e me veio parar às mãos, quiçá a mesma bóia que se vê por ré da cabina.


Foi por esta altura que efectuámos um exercício de tiro,


na sequência do qual estranhámos o aparecimento nas imediações do alvo de dorsos de cetáceos. Aproximei o navio, persegui os animais de perto e pudemos, da ponte, ser testemunhas de um espectáculo incrível: duas baleias (ou cachalotes) de grande porte amparavam uma outra mais pequena que sangrava com abundância de um flanco. Em termos marujos dir-se-ia que navegavam as três de braço dado. Presumo que o acaso levou a que um dos projécteis tenha atingido a pequenota que apesar disso nadava ao ritmo das salvadoras, quase à superfície. Sentindo a nossa proximidade, mergulharam mais fundo, sempre as três, muito juntas e sincronizadas. Percebemos estar a mais e deixámo-las em paz. A distância e os reflexos na superfície impediram que fotografasse a cena tal como aconteceu. Recordação magoada do acidente, registei no entanto a fotografia abaixo.


A equipa de oficiais não se fazia rogada e posava mais uma vez.


Vê bem, Victorino, que afinal, não havia mau tempo no canal.


Se bem me lembro, só não aterrámos a duas ilhas: Corvo e Graciosa. Quando o mar se zanga no arquipélago, é muito bom a zangar-se. Foi o que nos impediu de fazer o pleno das nove. Rápido na mudança de humores, obrigava-nos a dar-lhe muita atenção. Uma vez, estávamos fundeados nas Flôres, tive de ir a terra falar com o Capitão do Porto, camarada e amigo de longa data. Para não empatar pessoal fui sòzinho num bote de borracha, mar chãozinho, todo de corpo bem feito. Demorei mais tempo do que estimara a ver o resto das instalações da Estação Loran. O regresso a bordo, percurso não muito extenso, de início possível, ainda que não muito recomendável, já roçava o perigoso quando subi a bordo completamente encharcado. Flôres, é uma ilha algo fora das ofertas turísticas, com paisagens de paraíso…


Não houve ilha em que não visse recantos de singular beleza natural, mas sempre que ficava em caminho, as Velas de S. Jorge eram o nosso chamariz. Lhaneza de expressão, simplicidade no modo, tornou-se-me tão simpática aquela gente, que encontrei sempre razão para dela guardar memória:



A equipa de futebol do navio espalhava espectáculo pela aparada relva dos estádios…




…e regressava a bordo feliz com qualquer resultado.



Depois, convivia-se:





Entrava Junho e o cumprimento da missão, ia sendo mais fácil do que se previra. As ocupações próprias da vida do mar libertavam-nos da fixação na lonjura, de nossas mulheres, filhos, namoradas, pais… amigos. Mas os ócios, as noites, mesmo em horas de vigília nos postos de quarto, clamavam por silêncio e meditação, dois atalhos naturais da saüdade. Chegados aí, havia já quem se perdesse em rimas:

Dois amores

Quando longe navego pelo mar
Que me afasta de teus beijos tanto
Cresce em mim o desejo de odiar
Ao que por ti faz discorrer meu pranto

Olhos postos no dia de voltar
Mais perto cada vez que me levanto
Persigo o tempo num temor sem par
Feito de sonho e de quebranto

Pois se é grande a saüdade de te amar
Se por ti vivo choro e canto
E te adoro quase santa num altar

Onde te vejo em suave manto
Vê que só estarei de volta ao lar
Prenhe deste mar em que me encanto

É quando uma tarefa se torna rotineira que a confiança deslassa a atenção e as coisas más acontecem. Atracar e desatracar tornou-se uma rotina. Em Ponta Delgada, foi sempre por bombordo que atraquei a corveta ao molhe, a proa apontada ao concâvo do porto. Uma vez houve, no fim de Junho, em que quis ficar de proa virada para a saída. Com pouco espaço, a manobra de rodar o navio, mais difícil, obrigava a fazê-lo girar sobre o ferro. Correu bem e atracámos então por estibordo. Passados dias, para desatracar de entre dois grandes mercantões entretanto chegados, tendo sujeitado o navio  à proa por duas espias, postas defensas entre a amura e o cais, afastei a popa com a máquina de bombordo a vante. Depois de umas palhetadas a ré, ficámos paralelos ao cais e afastados dele o suficiente, orientados para a saída. Máquinas a vante devagar e ala! Aí aconteceu a surpresa: com pouco andamento, o navio foi presa de um vento brando que não tinha percebido, soprando da amura de bombordo. Acelerei a máquina de estibordo que aumentou a velocidade mas não chegou para guinar; o leme não teve tempo de fazer efeito e a corveta, obras mortas como se foram vela, voltou ao cais. O embate não foi pequeno. Coisas do fado de cada um, Eolo, que arrastado por si próprio tinha embarcado sem que se desse por ele, cuidou de que não houvesse consequências. O navio bateu paralelo à muralha, exactamente no vazio que ali deixara, sem tocar em nada que não fosse o cais; e a pancada, ela própria uma força, actuou sobre a elasticidade do casco que reagiu como mola, afastando-se, aproado de novo à saída. Respirei fundo e fiquei em débito com mais aquele deus, que fez o mal mas se escusou à caramunha.

Fomos para os Ilhéus das Formigas, em missão de apoio a obras a realizar no farol.


‘Citicorp Traveller 1’

Três dias e meio depois, no primeiro de Julho, regressámos a Ponta Delgada e atracámos ao N/M ‘Ribeira Grande’, era quase meia-noite. Fomos de imediato alertados para a possibilidade de nova missão, agora de busca e salvamento. Assim foi. Houve ordem para largar no fim da manhã seguinte, e procurar a lancha ‘Citcorp Traveller 1’, à deriva a Leste quarta a nordeste da Ponta Arnel, a cerca de 200 milhas. Largámos era quase meio-dia.



Mais lento, saíra horas antes o rebocador ‘S. Miguel’, levando gasolina especial para reabastecer a lancha, uma vez encontrada. Era uma e meia, recebeu-se mensagem do N/M ‘Elizabeth Maersk’ comunicando posição, rumo e velocidade e informando que rebocava a ‘Citicorp Traveller 1’. Fez-se rumo a um ponto de encontro. Com algum desnorte, o rebocador ‘S. Miguel’, alegando falta de víveres, resolveu voltar a Ponta Delgada, contrariando uma mensagem do Capitão do Porto. Quando recebi instruções para ir dar ao rebocador o que precisasse, já ele se aproximava da ilha de S. Miguel, pelo que uma contra-ordem fez voltar tudo ao princípio, isto é, fomos de novo ao encontro do ‘Elizabeth Maersk’, que avistámos pouco depois das sete horas. 



Largado o cabo de reboque, a ‘Citicorp Traveller 1’ navegou até nós que passámos a seu navio rebocador.



Mantiveram-se a bordo três dos tripulantes; e embarcámos um quarto, o Dr. Magoon, que nos fez relato dos sucessos.

Tratava-se de quatro médicos oftalmologistas americanos que gostavam de barcos e resolveram atravessar o Atlântico entre Sagres e Nova Iorque, com escala para reabastecimento nos Açores, tentando fazer a travessia em menor tempo que outros haviam conseguido antes. Arranjaram patrocínios, uma embarcação adequada com quatro potentíssimos motores à popa, treinaram-se e pediram ajuda aos serviços meteorológicos do seu país que lhes indicaram um intervalo de tempo em que – asseguraram – não encontrariam ondulação superior a meio metro. Sendo a quantidade de combustível finita e fixa, a interligação espaço, velocidade, tempo, dependia do consumo; e este aumentava com a altura da vaga a vencer. Pelos vistos, os técnicos consultados esqueceram-se das condições meteorológicas nativas da região, em que é soberano o anticiclone dos Açores; e este entendeu que as vagas teriam dois metros. Como resultado, acabou-se-lhes o combustível – conservaram uma pequena reserva - e ficaram a boiar a duzentas milhas de S. Miguel.

A viagem de regresso decorreu muito bem e às duas e meia da manhã do dia três de Julho estávamos em Ponta Delgada, de novo atracados ao ‘Ribeira Grande’.

Por pouco tempo.

‘Flor de Peniche’

Mal tinha pegado no sono, fui acordado. O 1º tenente Abrantes Lopes avisava-me que uma traineira, a ‘Flor de Peniche’, estava a afundar-se 30 milhas a Su-sudoeste de Ponta Delgada. Fez-se alvorada de imediato. Numa freqüência de socorro falei ainda com o mestre da embarcação que só teve tempo para me dizer que estimava estar a cerca de 30 milhas a Sul da Ponta dos Mosteiros, que a água estava a chegar à bateria e iam abandonar a embarcação. Meia hora depois do alerta, largámos. Com algum risco, visto que os motores tinham tido apenas vinte minutos de aquecimento em vez do tempo recomendado de uma hora.

O estado do mar – pequena vaga – permitiu uma velocidade de 22 nós com que se navegou para a posição fornecida pelo mestre, onde se chegou um quarto de hora depois das sete locais. Nada à vista!

Reduziu-se a velocidade. Atentou-se na batimetria, já que a embarcação estaria em faina de pesca e a profundidade não seria grande. Consideraram-se além disso o vento e a vaga. Desta observação resultou uma direcção de busca – E I  I/4 SE (107) - sobre a qual fomos ziguezagueando e fazendo desvios para investigar algo que parecesse destroço ou gaivota que pudesse significar peixe à superfície. Entretanto, todos os binóculos eram assestados sobre o mar.

A uma distância já roçando o limite de contacto rádio possível com o Comando Naval dos Açores quis saber quando poderia contar com a ajuda de alguma aeronave:

- Olha lá, quando é que vem um avião?
- Eh pá, inda bem que lembras isso. Vou já pedi-lo.

Passado algum tempo – sempre dando crédito à posição dada pelo mestre da ‘Flor de Peniche’ - entendeu-se não ser provável que os náufragos estivessem mais longe naquela direcção e mudou-se o rumo  para 334, aproando a fundos menores, sobre o banco de pesca.

Assente embora no maior número possível de dados concretos, uma busca nas circunstâncias da que fizemos tem muito de aleatório e intüitivo, assim como que uma espécie de exercício de adivinhação a que a sorte não é alheia. Olhar bem para a carta, ver o mar, cheirá-lo…  decidir um rumo quase inverso de outro a que se navega, o que se escolheu e não outro… pensar nisto, traz-me à lembrança que “aqui ao leme sou mais do que eu”.

De repente avistou-se um Boeing 727 da TAP.


Através de uma teia de equipamentos – Navio – Canal 16 VHF – Pilotos de Ponta Delgada – Telefone – Comando Naval dos Açores – Telefone – Torre de Contrôlo do Aeroporto – Rádio – Avião – usada nos dois sentidos, o Comandante do Boeing assinalou a posição dos náufragos 4 milhas a Norte da nossa posição.

Indicação preciosa. Ao rumo a que navegávamos ficar-nos-iam a 1.7 milhas pelo través de estibordo. Vê-los-íamos… ou não. Assim, estavam encontrados.

Interessante é a história que me contaram, da entrada do Boeing nesta história. O Comandante do avião, já sobre a pista, preparando-se para pousar e em comunicação com a torre de controlo, ouviu um pedaço da conversa àcerca da busca dos náufragos, que no emaranhado de equipamentos usados, atrás descrito, estava ligada a um altifalante. Por sua alta recreação borregou o avião, ganhou altura e pediu pormenores. Senhor da situação, em boa hora se associou à busca. Bem haja.

Também me disseram que, em contraste, houve passageiros apressados que o xingaram pelo desvio.

Ao novo rumo, os binóculos concentraram a atenção na proa. E pouco depois avistou-se o colorido das bóias de sinalização das artes de pesca.


Cheguei o navio a 200 jardas do amontoado de gente e bóias. Impacientes – claro que tinham de estar impacientes – três artistas desataram a nadar para nós. Tive que me afastar com máquinas a ré a toda a força para manter capacidade de manobra. Devem ter-nos chamado bonitos nomes…

Mantive o navio a uma distância safa – 500 jardas - e mandei arriar o bote de borracha dos fuzileiros. Face à demonstração de pânico dos nadadores dei ordem ao cabo para que fosse armado. Eram quinze homens que não podiam ser recolhidos de uma só vez, tornava-se necessário antecipar dificuldades. Que houve de facto, enquanto o bote não largou da improvisada jangada com os primeiros oito pescadores.





A água estava a 19 graus. Havia cerca de três horas que tinham naufragado. Para se fazer ideia de como o meio é adverso, dois dos homens já estavam em estado de pré-choque por hipotermia. Eram os mais idosos e rondavam os 50 anos. Vieram na primeira leva e tiveram que ser içados com cabos à volta do corpo, dados a extrema fraqueza e rigidez em que se encontravam e a ondulação não permitir o embarque de outro modo.



 




Agora de viva voz, quando cheguei de novo à conversa com o mestre, que veio por último, contou-me ele ser de Peniche e estar a viver o seu quarto naufrágio. Já batido, quando percebeu que o barco se afundaria, instruiu os homens para amarrarem tudo o que pudesse flutuar, amarrando-se depois eles próprios ao flutuador assim criado. Uma vez no mar recomendou-lhes que se mexessem, agitassem, batessem palmas, gritassem, não parassem de se movimentar, para se manterem quentes. Mas acrescentou que esta última recomendação foi quase letra morta. O movimento mais usado para aquecer, foi pôr as mãos em oração ao Senhor Santo Cristo. Não estava por isso admirado do estado em que os dois mais velhos tinham chegado.



Uma vez a bordo, foi admirável a espontaneidade com que se formou uma vasta equipa de assistência solidária. Toda a marujada queria ajudar. Aquilo eram toalhas, aquilo eram mantas, massagens com álcool, aquilo eram bebidas quentes, palavras de ânimo, um sem fim de pequenas e por vezes emocionadas acções sobre os involuntários protagonistas, que comoviam. O sargento enfermeiro Cebôla, discreto e eficiente foi dirigindo a manobra.  





Era quase meio-dia local quando voltámos a atracar ao ‘Ribeira Grande’. Tinha entretanto sido pedida uma ambulância para os dois pescadores em piores condições. Um deles, porém, reagiu e recompôs-se antes da chegada a Ponta Delgada.

Um imenso aglomerado de gente aguardava os sinistrados. Assistiu-se às cenas de emoção que tais circunstâncias propiciam: a mulher que recupera o marido, o irmão que abraça o irmão, toda uma alegria com lágrimas que também toca os de fora.

Entre os de fora, naturalmente a guarnição da ‘Pereira d’Eça’, que tanto se empenhou no completo salvamento dos quinze naufragados. Fez-se o que se fez por dever de profissão, no cumprimento de uma  missão, a nossa missão; e por amor ao semelhante. Não nos são devidos agradecimentos ou encómios. Mas, simpatia, cortesia, cordialidade, expressas numa palavra, num olhar num pequeno gesto, ter-vos-iam ficado tão bem… caros pescadores resgatados ao mar! Não falo do mestre que com delicadeza me expressou o seu agradecimento. Falo de vós, que tão devotamente ouvi a bordo em preces de gratidão ao Senhor Santo Cristo, sem que sequer me tivessem olhado. Ainda bem que todos nós, nós e o Senhor Santo Cristo, tão bem cooperámos para vos trazer de volta aos lares. 















‘Regina Maria’


Os salvamentos não ficaram por aqui. No fim da manhã de 5 de Julho, recebeu-se informação de que a traineira ‘Regina Maria’ estava à deriva, a Nordeste da Ilha de Santa Maria, a 6 milhas da costa. Largou-se em pouco mais de meia hora. Antes de três horas passadas, avistou-se a traineira, na Baía de S. Lourenço, a reboque da lancha de pilotos de Vila do Porto, sob as ordens do Capitão do Porto. Uma hora depois já éramos nós que a rebocávamos. Mas o mau estado do cabo que a ‘Regina Maria usou para ligação ao nosso cabo, fê-lo partir-se . Enquanto preparava novo cabo, a traineira abateu com rapidez para uma posição extremamente perigosa, muito perto de pontudas rochas, agressivamente à vista. Aproximei o navio de popa para encurtar a distância e facilitar a manobra, cujo sucesso, por isto ou por aquilo, tardava. Quando consegui pôr a popa junto da traineira e se firmou o reboque, a ‘Pereira d’Eça’ estava a 250 jardas das rochas. A ter falhado esta tentativa, a ‘Regina Maria’ iria sem apelo contra os escolhos, com conseqüências facilmente previsíveis, porque eu não podia arriscar mais a segurança do navio. Chegámos a Ponta Delgada já noite. À entrada do porto entregou-se a traineira a um rebocador que a levou para dentro.

Dia da Marinha

Ao tempo, comemorava-se a 8 de Julho, dia da largada de Vasco da Gama para a Índia. Em 1977, o Comandante Naval dos Açores visitou-nos.





Mota Amaral

Na antevéspera do regresso a Lisboa, da tarde para a noite, alguém do governo da região, pediu à prancha para falar com o Comandante do navio. Recebi o enviado na camarinha. Formalizou um convite do Presidente do Governo Regional para que me juntasse a ele nessa noite, numa cerimónia de distribuição de prémios do IV Campeonato de Vela da classe 470 e no jantar que se lhe seguia. Resolvi não dar conta da deselegância do convite sobre a hora e decidi aceitar. Pedi ao Imediato que se aperaltasse e fosse comigo. Pela minha parte, decerto como reacção ao procedimento inamistoso dos micaelenses, com uma pontinha de acinte, optei por um figurino provocatório: um belíssimo fato ‘Pierre Cardin’ bege comprado anos antes num saldo em Joanesburgo, uma camisa de seda natural no mesmo tom, desentranhada de uma prateleira do Dahramcy em António Enes; e sobre este fundo, que mal se distinguia da pele, um imenso laço vermelho vivíssimo que tornava invisível tudo o resto.

Mota Amaral, homem político, inteligente, percebera que os sucessos dos últimos dias podiam ser um ponto de partida para algum desanuviamento no clima de fricção que atrás julgo ter mostrado um pouco. Trocámos algumas palavras de circunstância e no fim do jantar, aos brindes, dirigiu-se-me, enaltecendo e agradecendo o que tínhamos feito. Mas de tal maneira o nome do outro navio tinha ocupado o imaginário daquele povo, que quando quis dar nome à corveta chamou-lhe ‘João Belo’. Não pude deixar de o emendar no acto. Reagiu bem… deixou-se emendar. Acabou por me oferecer uma garrafa de licor de maracujá do Ezequiel, de que ao fim de tanto tempo ainda resta um pouco.

Remate

Ter tido oportunidade de ser o comandante dos homens e do navio que protagonizaram o que atrás fica narrado, é por si só razão que bonde para sentir que escolhi bem ser oficial deste ofício.

Mezena
Em 3 de Novembro de 2012

[a] – É minha intenção dar sequência neste blogue a ‘Livro de Ordens do Comandante’.
















4 comentários:

  1. Lagostas daquelas é que tu já não apanhas!

    Um forte abraço!

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  2. Sou neto do Oficial Cardoso Mendes e apenas hoje tive oportunidade de ler esta crónica. Recordou-me os tempos de infância em que tantas vezes ouvi histórias da Marinha, de futebol e de convívio. Obrigado por isso e bem haja!

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  3. A "Regina Maria", tinha sido da minha família. Aliás, é o nome da minha irmã.
    Nessa altura já a tínhamos vendido para São Miguel. A falta de marinheiros, e o tamanho do barco, levaram a essa opção.

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  4. Boas. Fala-se muito do Lifau, o pequeno rebocador que foi adquirido para Timor em 1974. Mas nunca vi fotos nem dele nem da Laleia. Alguém pode postar? Obrigado

    alberto.moura.g400@esaq.pt

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